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2003 – O POVO CONTA A SUA HISTÓRIA: SACO VAZIO NÃO PARA EM PÉ, A MÃO QUE FAZ A GUERRA, FAZ A PAZ

Resultado
Campeã do Grupo Especial (LIESA) com 399,6 pontos

Data, Local e Ordem de Desfile

3ª Escola de 03/03/03, Segunda-Feira
Passarela do Samba

Autor(es) do Enredo

Cid Carvalho, Shangai, Laíla, Fran-Sérgio e Victor Santos

Carnavalesco(s)
Comissão de Carnaval

Presidente
Farid Abraão David

Diretor de Carnaval
Laíla

Diretor de Harmonia
Laíla

1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Selminha Sorriso e Claudinho

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Janailce e Eduardo Belo

Coreógrafo da Comissão de Frente

Ghislaine Cavalcanti

Bateria

250 Componentes sob o comando de Mestre Plínio e Paulinho Botelho

Contigente

4000 Componentes em 40 Alas

Samba Enredo

Autor(es)

Betinho, JC Coelho, Ribeirinho, Glyvaldo, Luis, Manoel, Serginho e Vinicius

Puxador(es)
Luiz Antônio Feliciano Marconde (Neguinho da Beija-Flor)

Luz, divina luz que me conduz
Clareia meu caminhar, clareia
Nas veredas da verdade: cadê a felicidade?
Aportei num santuário de ambição

E o índio muito forte resistiu
A tortura implacável assistiu
Enquanto o negro cantava a saudade
Da terra-mãe de liberdade

Na França é tomada a Bastilha
O povo mostra a indignação
Revoltado com o diabo
Que amassou o nosso pão

Grito forte de Palmares… Zumbi
Herói da Inconfidência… Tiradentes
Nas caatingas do Nordeste… Lampião
Todos lutaram contra a força da opressão

Nasce então
Poderosa guerreira
E desenvolve seu trabalho social
Cultura aos pobres, abrigou maltrapilhos
Fraternidade, de modo geral
Brava gente sofrida da baixada
Soltando a voz no planeta carnaval
Eu quero: liberdade, dignidade e união
Fui lata, hoje sou prata
Lixo, ouro da região
Chega de ganhar tão pouco
Tô no sufoco, vou desabafar
Pare com essa ganância, pois a tolerância
Pode se acabar…

Oh! Meu Brasil!
Overdose de amor nos traz
Se espelha na família Beija-Flor
Lutando eternamente pela paz!

Como estaríamos vivendo hoje se o primeiro homem, ao desobedecer ao Deus Criador não fosse expulso do paraíso?
Estaríamos nó, desfrutando da fartura dos Jardins do Éden?
Mas a ira do Senhor nos deu um mundo pecador como herança.
Cavaleiros em seus cavalos de fogo foram enviados dos céus para anunciar o Apocalipse.
A terra conheceu a fúria dos sinais do Cataclismo Celestial.
Multiplicaram-se as guerras.
A peste se espalhou implacável.
A morte tornou-se vulgar.
A fome assolou sem piedade a humanidade.
O mundo conhece o caos moral e espiritual.
O fim parece muito próximo.
É tempo das grandes navegações na Europa.
As nações se lançam ao mar.
Dessa maneira a luz superior que a tudo vê, soprou os ventos da justiça e da misericórdia empurrando as embarcações para uma terra nova e distante.
Suas árvores ofereciam frutos em quantidade.
De suas fontes honravam águas límpidas e cristalinas.
Ali não existiam nem ricos, nem pobres.
Apenas uma gente de alma pura e simples, porém feliz, vivendo em igualdade, fraternidade e liberdade.
Ah! Deus de piedade!
Destes ao homem uma nova chance, destes ao homem um verdadeiro paraíso terrestre.
Mas a ganância dos descobridores é cega e cruel.
Ignoram o colorido das aves.
A beleza rara das borboletas.
O perfume mágico das flores.
Apresentaram sem dó, nem piedade aos nativos do Éden terrestre um inferno onde a dor, a fome e a escravidão eram senhoras absolutas, filha legítima da ganância.
Ah! Ganância…
Foi em teu nome que invadiram o continente negro.
Humilharam, escravizaram, desrespeitaram os Deuses Africanos.
Arrancaram à força de sua pátria mãe os povos negros.
Do negreiro pra senzala.
Maltrapilhos, miseráveis.
Na oferenda aos Orixás o lamento e as suplicas por liberdade e dignidade que ficaram na terra distante.
Definitivamente a ganância espalhou a fome e semeou revoltas pelos quatro cantos do planeta.
Na Europa o General Fome fez funcionar a guilhotina, degolou cabeças reais.
Fez o povo tornar a bastilha.
No Brasil, a criança nação, clamava por liberdade. Batia forte um coração patriota no peito do povo.
De um povo sofrido e oprimido.
Um povo sem direitos,
Sem alternativa.
Mas é no meio do povo, na sua dor, que faz morada a esperança!
Esperança reluzente na figura de Zumbi guerreiro.
Em Palmares ardia a chama da igualdade entre todas as raças.
Nos sertões do país, lutando por justiça social e contra o poder opressor de sua época, surge um cabra da peste de nome Lampião.
A força mortal não foi capaz de apagar o sonho de ver a pátria e seus filhos livres do grande mártir Tiradentes.
Mas o tempo passou.
Quase nada mudou.
Somos a pátria das desigualdades,
Filhos do medo:
Da violência crescente,
Do desemprego desolador,
Da fome opressora.
Ah! Brasil continental.
De solo abençoado onde se plantando tudo dá.
Pareceres não saber que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidades e em direitos.
Sem distinção alguma de raça, cor, língua cor, religião, que devemos agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Que temos direitos à vida, a liberdade, a segurança.
Mas em meios a esta eterna luta contra a miséria observamos o nascimento de uma poderosa guerreira em uma das regiões mais carentes do nosso estado: a Baixada Fluminense.
Seus filhos simples e humildes ganharam uma grande defensora e porta voz revestida de muita garra; mas acima de tudo, de muito amor por seus soldados.
Seu grito de alerta denunciou em nome de gente oprimida.
Seus hinos por igualdade se fizeram ouvir pelos quatro cantos do planeta.
Defendeu o povo de rua, as meretrizes, os pedintes e os desocupados.
Na sua luta, por várias vezes, vestiu seus soldados de reis e rainhas.
Fez lata virar prata, lixo virar ouro.
Em seu nome voltou-se a sorrir, a se ter orgulho.
Voltou-se a sonhar.
Ah! Beija-flor de Nilópolis, da Baixada sofrida:
Por quê o Brasil não fez de você o exemplo?
Devolvendo o cidadão o que lhe foi tirado.
Onde ficou a promessa de povo bem nutrido?
De um país desenvolvido?
Cadê o nosso direito à paz e moradia?
Chega, ninguém agüenta mais!
Chega de ganhar tão pouco, chega de sufoco, Senhores mandatários do Brasil:
Chega de covardia .
Nos sentimos como índios, primeiros habitantes do nosso Brasil.
Como eles somos vítimas da violência.
Sofremos as estocadas da ganância.
Somos alvos vulneráveis de uma selva de pedra implacável.
Prisioneiros das jaulas que ajudamos a criar.
Mas hoje queremos resgatar o ser humano e exaltar sua redenção.
Oferecemos um grande banquete para celebrar.
Das bandejas o amor transbordar.
Dos pratos de esperanças, a vida brotar.
Doses fartas de fraternidade para brindar.
Aqui, todos são iguais, convidados a participar,
Têm voz para reclamar.
É o momento do desabafo,
Do grito de alerta,
Do pedido de socorro, de cada um de nós.
Vítimas de um dia-a-dia que não hesita em nos fazer sofrer, e muitas vezes nos negar a esperança para alma e o alimento para o corpo.
Mas Saco Vazio não Para em Pé!!!
O que propomos é mais que enredo, é acima de tudo um canto sincero e emocionado de gratidão às almas e instituições que sempre lutaram ao lado da massa, em favor dos menos favorecidos.
É o próprio povo contando a sua história.
Que o Senhor Deus nos abençoe e atenda as nossas preces!
Amém.

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