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2004 – MANÕA, MANAUS, AMAZÔNIA, TERRA SANTA: ALIMENTA O CORPO, EQUILIBRA A ALMA E TRANSMITE A PAZ

Resultado
Campeã do Grupo Especial (LIESA) com 388,7 pontos

Data, Local e Ordem de Desfile

5ª Escola de 23/02/04, Segunda-Feira
Passarela do Samba

Autor(es) do Enredo

Alexandre Louzada

Carnavalesco(s)
Comissão de Carnaval

Presidente
Farid Abraão David

Diretor de Carnaval
Laíla

Diretor de Harmonia
Laíla

1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Selminha Sorriso e Claudinho

2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Janailce e Carlos Augusto

Coreógrafo da Comissão de Frente

Ghislaine Cavalcanti

Bateria

Mestre Plínio e Paulinho Botelho

Contigente

N/D

Samba Enredo

Autor(es)

Cláudio Russo, José Luis, Marquinhos e Jessey

Puxador(es)
Luiz Antônio Feliciano Marconde (Neguinho da Beija-Flor)

A ambição cruzou o mar
Trazida pelo invasor
A Espanha veio explorar
Pilhar e semear a dor
Amazonas, Terra Santa
Dos igarapés, mananciais
Alimenta o corpo, equilibra a alma
Transmite a paz
Brilhou o Eldorado no coração da mata as guerreiras
Belezas naturais, riquezas minerais
O reino de Tupã ergue a bandeira

Êh! Manôa
Minha canoa vai cruzar o Rio Mar
Verde paraíso é onde Iara me seduz com seu cantar

Doce sabor da magia
Fruto da energia o meu guaraná
A lágrima que o trovão derramou
A terra guardou semente no olhar
Maués, Anauê cultura milenar
Anauê, Manaus, Mamirauá viva a Paris tropical
Água que lava minh´alma
Ao matar a sede da população
Caboclo ê a homenagem hoje é
A todo povo da floresta um canto de fé

Se Deus me deu vou preservar
Meus filhos vão se orgulhar
O Amazonas é Brasil, é luz do criador
Avante com a tribo Beija-Flor

Manôa – Manaus
Amazônia – Terra Santa
Alimenta o Corpo,
Equilibra a Alma e
Transmite a Paz

 

Os pedidos de proteção multiplicaram-se entre os tripulantes das embarcações que balançavam tranqüilas sobre o oceano silencioso.

Clamavam temerosos, aqueles aventureiros, ao poderoso senhor dos ventos, que lhes permitissem uma travessia vitoriosa rumo as fascinantes terras do “Novo Mundo”, sem tormentas ou furacões.

Já para o senhor das águas, imploravam por calmarias e correntes tranqüilas.

Dessa maneira, partiram os espanhóis rumo ao ocidente; entre fascinados e temerosos, porém, acima de tudo, encantados com os boatos que corriam sobre as riquezas daquelas terras distantes.

Com o peito impregnado de ambição, cada um daqueles rudes navegadores tentaria, de todas as maneiras, com a própria vida se preciso fosse, acumular fortunas.

Aparentemente, Éolos, o senhor dos ventos e Poseidon, o senhor das águas, de fato protegeram as embarcações e seus tripulantes, pois a viajem se mostrou sem grandes novidades.

No entanto, a ingratidão foi senhora guia daquelas almas.

Não hesitaram, ao tocarem o solo das Américas, em espalhar violência e dor.

Banharam sem piedade, com sangue de inocentes nativos, a terra da deusa Gaia e mancharam com a fumaça dos incêndios criminosos os céus do deus Urano.

Mas a cobrança dos deuses não tardaria a chegar.

 

Depois de conquistar e aniquilar os Astecas, Maias e Incas, soterrando sobre os escombros suas culturas e conhecimentos milenares, os espanhóis, entre delírios e realidades, provocados pela quantidade de ouro encontrada e pelas lendas contadas pelos povos vencidos, partem em busca da maior de todas as lendas nativas: Encontrar Manôa e o fantástico reino do Eldorado, com sua corte de fascinantes adornos e onde, conforme rezava a lenda, até a vegetação era do mais valioso metal e os frutos bordados com pedras preciosas de beleza jamais vista.

Guiados pelo faro da ambição, adentraram por uma floresta impressionante e navegaram por um rio que mais parecia um oceano.

Mas a carnificina deixada como rastro pelos espanhóis, jamais seria assistida impunemente pelos deuses.

Dessa maneira, Zeus, o deus dos deuses da antiguidade, deixou a cargo de Tupã, o deus dos deuses da grande floresta do “Novo Mundo”, a missão de deter o demônio inquieto da ambição.

Tupã liberou então a Cobra Rio Honorato para proteger a floresta. Atordoados e delirantes, os navegadores se viram atacados ferozmente por uma tribo composta somente por mulheres, vestidas completamente de ouro.

Passados dias e noites, enfim foram vencidos e expulsos. Acreditando terem encontrado ali, no seio da mata virgem, a mitológica tribo grega das temíveis Amazonas, batizaram o rio com o nome dessas guerreiras.

Anos depois, em outra mal fada expedição, os espanhóis proclamam-se independentes da coroa espanhola e fundam, em plena selva, um reinado espanhol onde Fernão de Gusmão é aclamado como rei.

Mas ao longo do grande rio e seus afluentes, a vida aflora com mistérios escondidos nas matas e nas almas que ali vivem.

 

Os naturais protegiam Manôa – A senhora mãe da terra e, ao mesmo tempo, eram protegidos por Honorato, a cobra-rio-mística, que deu vida ao Jurupari, senhor todo poderoso e guardião das florestas. Para preservar as águas fez surgir a Cobra Grande Boiúna, que espalha pavor com seus olhos de fogo e a Iara, que atrai para o seu palácio de cristal verde no fundo das águas, aqueles que teimam em agredir os rios.

Caiporas e Curupiras também foram evocados para fazer parte deste grande exército místico contra os predadores.

Mas a erva daninha da civilização irrompe do litoral para o interior, propagando-se de maneira ameaçadora.

Em nome do mercantilismo capitalista vivenciou-se um período com um caráter puramente predatório com a exploração indiscriminada do ouro, da prata e das madeiras nobres, além da subjugação dos naturais.

Por outro lado, as expedições e missões artísticas ou científicas do século XIX, funcionaram como uma espécie de catalogação das nossas riquezas.

Dessa maneira, a borracha extraída dos seringais, projeta a Amazônia no cenário mundial. Manaus, a sua capital, graças ao seu requinte, passa a ser reconhecida como a “Paris dos trópicos”.

O seu magnífico Teatro, decorado pelo artista italiano “De Angelis”, recebeu as melhores companhias da Europa e espelha todo esplendor de uma época dourada.

Mas como não há mal que sempre dure ou bem que nunca se acabe, a felicidade sucumbiu em nome da civilização.

Ah! Civilização…

Em nome do seu Deus, envergonhastes o universo ao tentar cobrir as vergonhas dos donos da terra. Pregando sua fé à força, espalhastes doenças e não ensinastes a cura; escravizastes, matastes e queimastes a selva; a fúria da poluição alcançou as águas, o ar e a terra; o caçador, como implacável ignorante, fez desaparecer várias espécies vegetais e animais.

Ao ver tanta crueldade e pressentindo o perigo de que todos os ensinamentos contidos em cada recanto da floresta sucumbissem, surge da dor e das lágrimas de Tupã uma planta mágica, nascida da eterna luta entre o bem o e o mal. Desta planta brotaria uma flor, que por sua vez, se transformaria em singelo fruto.

Tendo os índios Maués como guardiões protetores, ganhou o fruto o nome de guaraná e traz ao homem, com sua energia, o ideal da redenção.

 

Com o formato dos olhos de Tupã, tem o poder de nos lembrar que “ele” tudo vê e tudo sabe. Em sua extrema bondade, dotou a bebida feita desse fruto com o poder de abrir as portas divinas e renovar o pacto do homem de alma humilde com as energias superiores, assim como era no princípio e nunca deixou de ser para aqueles que não se deixaram levar pela ambição.

Em nome da nossa própria sobrevivência, rogamos que a grande floresta continue a ser guardada e protegida pela densidade e força mágica dos milhares de seres místicos que nela fazem morada.

Que os encantos da Iara, as pegadas trocadas do Curupira ou mesmo as peripécias do Saci-Pererê, mantenham afastados os predadores cruéis.

Reine absoluto Jurupari, senhor da floresta, pelo bem de todos nós.

 

E que juntos, numa junção de energias universais, possamos enfim compreender que o Eldorado de fato é real, mas de ouro não é não, nem mesmo diamantes ou esmeraldas. Que todos se dêem conta que o verdadeiro Eldorado é verde e brota no coração da floresta. Que nas suas folhas, ramagens, cipós, flores e ervas estão guardados os segredos para a cura dos males do corpo e do espírito.

Que a nossa guerra seja por um mundo melhor, por saudáveis gerações.

Que a nossa luta seja eterna para preservarmos uma dádiva infinitamente valiosa: A água – O fantástico combustível da vida.

Como guerreiros, transformarmos a sede que ameaça o planeta, em sede permanente da batalha por um mundo de pessoas com o corpo e a mente sã.

Que o quadro do futuro não seja pintado com os tons de cinza das queimadas, o negro das fumaças das fábricas ou os tons de marrom das águas poluídas, mas que seja sim, tingido com as variadas cores e infinitas matizes que nos legaram todos os deuses:

O verde das matas;

O azul do céu e das águas;

A explosão de cores dos pássaros e das flores…

O branco da paz.

Que ecoe para todo o sempre as vozes dos povos e dos espíritos da Floresta na imensidão verde. Evocando sob a luz da lua cheia os espíritos dos ancestrais pajés feiticeiros, em louvor da deusa Amazônia, a Senhora Guardiã dos Segredos da Própria Vida.

Manôa que virou Manaus. O coração da Amazônia. Uma Terra Santa que Alimenta o Corpo de quem transforma sua fauna e flora em uma forma de vida e de cura, que Equilibra a Alma daqueles que tiveram seu espírito perturbado pelo caos da civilização e Transmite a Paz em tempos em que o homem insiste em declarar guerras.

Comissão de Carnaval – GRES Beija-Flor de Nilópolis

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